Óvulos atletas! Fertilização in vitro antes da quimio!
O meu mundo girou mas não parou. Depois de um dia de “malabarismos emocionais”, começou a etapa seguinte. Decidimos que iríamos avançar com o congelamento de embriões. Um seguro de maternidade para que não nos arrependamos mais tarde. É mais um procedimento, mais uma “agressão” física, psíquica e moral, mas tinha que ser. A minha samurai interior estava cada vez a ficar mais forte e pronta a enfrentar todas as batalhas que iriam se aproximando. As taxas de sobrevivência de um embrião congelado são altas. Cerca de 85/90%. E a taxa de sucesso de gravidez, desta forma, anda por volta dos 30/40% (parecida com a taxa da gravidez por meios naturais). As chances de ficar infértil pós tratamento são de 40 a 60%.
Depois do diagnóstico do câncer estamos sempre a ouvir falar de probabilidades. Nada é 100% certo, e em qualquer opção que tomemos há sempre um risco muito grande de não dar certo. Começamos a nos sentir pequenos e fracos perante este mundo de probabilidades e porcentagens. Até que chegamos a um ponto que não queremos mais ouvir falar de números e sim, tomar todas as providências para sermos mais um caso de sucesso! Queremos viver e viver bem!!
Fomos então fazer exames de sangue (eu e o maridão). Quando ele foi fazer as dele, eu fiquei na sala de espera. Passados uns minutos, vem uma enfermeira que me chama, “Você é a esposa do Rodrigo? Pode-me acompanhar, por favor?”. Quando cheguei lá dentro….o maridão tinha desmaiado e estava acordando, pálido e a tremer. Não me aguentei e, depois de ver que ele estava bem, ri, gargalhei,…como se não houvesse amanhã. Ele dava umas risadinhas e as 3 enfermeiras (que estavam contidas) riram também. E eu dizia… “eu é que tenho o câncer e ele é que desmaia”…kkkkk.Pronto, rimo-nos todos, durante vários minutos. Ainda hoje rio quando me lembro!
A partir deste dia e, durante 10 dias, comecei a ter consultas diárias com o especialista em fertilização, o querido do Dr. Fábio Biaggioni Lopes. Comecei me auto-aplicando injeções diárias de Gonal e depois Certrotide, mantendo o Gonal (já estava tomando o Letrozole desde a noite anterior – que ajuda no crescimento dos folículos sem aumentar o estrógeno). Digo “auto-aplicando” pois o maridão se livrou logo da função. Descobriu que desmaia ao ver agulhas!!!. Então, durante 10 dias dei vários furinhos na minha “barriguita” que ia crescendo ao longo do tempo.
Uma medicação estimula a produção e crescimento dos folículos (onde estão os óvulos) e outra tem a função de impedir a ovulação dos folículos que estão em desenvolvimento para que não ocorra a ovulação. Ou seja, os folículos (casulo dos óvulos) devem crescer mas não a ponto de ovularem, Isso vai ser feito cá fora, por um especialista. Todos os dias víamos a evolução dos folículos ovarianos (onde estão os óvulos) e a espessura do endométrio, através de um ultrassom transvaginal. Tudo era medido, contabilizado e anotado. Eles iam crescendo e aumentando a olhos vistos. Viva!! Óvulos atletas! Só tínhamos esta hipótese de fazer dar certo. Se a perdêssemos teria que começar a quimioterapia sem congelar os potenciais herdeiros! E ninguém queria isso, claro!
Estávamos todos na torcida. Foi um desafio para o Dr. Fábio pois não tínhamos outra chance e estávamos agindo preventivamente, por causa do tratamento agressivo que eu iria enfrentar. No entanto, tínhamos uma vantagem em mãos. Ele iria fazer a retirada de óvulos de uma pessoa saudável e, aparentemente, sem problema algum para engravidar. Calores…frios…afrontamentos…veio todo aquele “pacotinho” de alterações hormonais, mesmo com baixa dose. Era engraçado, divertido, pelo menos. Ora frio, ora calor…era um tira e põe de agasalho e de liga desliga o ar condicionado. E uma vontade de doces atroz! O que não foi nada divertido foi a proibição de relações sexuais durante o processo de preparação para a FIV (fertilização in vitro).
Antes do procedimento de retirada dos óvulos tivemos que assinar um documento super extenso sobre o destino dos embriões nas mais variadas opções de situações. Em caso de divorcio, morte de um dos cônjuges, morte dos dois, etc. As opções mais hilárias e que nunca ninguém pensa! Foi curioso e tornamos a situação divertida.
No dia 4 de Março de 2013, foi a aspiração dos meus óvulos e a coleta de sêmen do maridão. O procedimento dele foi fácil. Fecharam-no em uma salinha, com revistas pornográficas, TV e um copinho… e ele se desenrascou. O meu já foi mais invasivo. 8h de jejum, sedativo e…lá aspiraram os candidatos a “babies”. Acordei arrastando a minha fala e perguntando quantos óvulos tinham sido retirados. “Foram 15 Vânia, muito bom!” Pronto fiquei contente e voltei a dormir E depois acordava e fazia a mesma pergunta e dormia. Fiz isto 5 vezes!! E o coitado do dr. Fábio respondia sempre. Eu sorria e dormia…e comia…
A FIV (fertilização in vitro) foi feita no próprio dia e, durante os 3 dias seguintes, os embriões ficaram em cultivo na incubadora, onde foi avaliado o seu desenvolvimento. O Dr. Fábio ia me ligando, informando o ponto da situação dos meus atletas. Os óvulos da mãe (eu eu eu) foram fertilizados com o esperma do pai (maridão maridão maridão) no laboratório, no próprio dia. Foi inserido um espermatozoide em cada ovulo. Depois, cada óvulo dividiu-se e transformou-se em um embrião, que ficou armazenado em um fluido nutritivo durante 3 dias. Após este período, o embrião normalmente é transferido para útero da mãe após 3/4 dias ou, no nosso caso, foi congelado. Aliás foram congelados, pois 11 foram fertilizados :). Eba! Foram congelados e estão lá…nos esperando. Nosso time de futebol de óvulos atletas. Eu acredito que este time de futebol seja apenas uma espécie de seguro que fizemos, caso eu venha a ficar infértil ou tenha uma menopausa precoce. Acredito que vamos também “fabricar” os nossos babies da forma natural. E se não conseguirmos, temos sempre o nosso time!
Olá! Conheci o teu blog através do blog da Pipoca Mais Doce e fiquei encantada com o que aqui escreves. Provavelmente já deves ter ouvido muitas vezes mas ÉS UMA GUERREIRA, uma verdadeira samurai! E com uma mãe assim, é claro que os babies serão mini-samurais e aguentarão firme e forte durante o processo de FIV. Vivi de perto uma Inseminação Artificial, a minha mãe já não podia ter filhos (tinha laqueadura de trompas) mas depois quis mais um e entramos numa verdadeira luta pela nossa princesa. Hoje, dez anos depois, quando olhamos para ela temos a certeza de que valeu a pena. E que essa breve “história” te inspire para que nunca, nunca mesmo, desistas. Vais conseguir! Um beijão!
Ola Anne,
são histórias como a tua que me dão animo…nada é por acaso
Um grande beijinho
Lindos babies virão e serão abençoados em ter mãe e pai maravilhosos!!! Parabéns por essa sua garra de ir atrás dos seus sonhos e superar os obstáculos de forma tão leve. Beijão
Ola Flávia, muito obrigada e beijinhos grandes
És simplesmente espectacular. Ler este blogue é uma lição de vida, e eu não perco uma única palavra escrita por ti. Tenho a certeza absoluta que vais cortar esta meta em 1º lugar. A tua postura perante a vida faz-me encolher até ao tamanho da mais pequena das formigas. Parabéns, muitos parabéns!
que palavras tão lindas e encorajadoras…fiquei ate arrepiada beijinhos
Vânia, torço pelo tratamento e pelos bebês, sejam eles naturais ou atletas.
Estou a torcer para dar tudo certo!
O amor é natural e o resto são apenas os meios para atingir o fim!