A primeira cirurgia

Quando a cirurgia ficou realmente marcada relaxei. Só queria que chegasse a data para acabar logo com o sofrimento da dúvida e dar lugar ao sofrimento da recuperação. O que eu queria era ter resultados, conclusões, acabar logo com a angústia. Continuei trabalhando que nem uma maluca e ainda por cima tinha uma colega da sede da empresa, em visita ao escritório do Brasil. Tínhamos que rentabilizar o pouco tempo de que dispúnhamos. Trabalhei até à véspera da cirurgia. A última refeição, antes do dia “D”, foi com a família brasileira e com o meu amuleto favorito, a sobrinha Maitê. Eu era a mais alegre e bem disposta de todos. Nem parecia que era eu que ia para a mesa de cirurgia no dia seguinte! Peguei muito no colo a minha pequerruxa, pois iria ficar muito tempo sem o poder fazer. Tive que lhe explicar direitinho e ela lá meio que entendeu. fotoFiz a mala para o hospital pois não sabia se teria que passar a noite e lá comecei o jejum de 12h, inclusive de água. Até me podem tirar a comida…mas a água, é um problema. Sou meio viciada neste elixir! Dia 29 de Janeiro, lá fomos para o Hospital Vivalle. Burocracias, papeladas….o apartamento ainda não estava pronto. Enquanto isso, aproveitava para dar os parabéns a um amigo de longa data em Portugal e ao mesmo tempo ele contava-me que a mãe de uma grande amiga nossa tinha falecido naquele mesmo dia, com um câncer! Claro que não lhe contei que eu também estava com um e prestes a entrar para cirurgia!!! Não lhe podia estragar ainda mais o dia.

O maridão criou um grupo no whatsapp com a família e as 3 amigonas de Portugal: “Noticias da Vanuxa”. Mandava (e continua mandando) atualizações a todo o momento, incluindo fotos, dos bons e dos maus momentos. Entretanto, veio um enfermeiro que disse: “O Dr. Vial acabou a 1ª cirurgia dele mais cedo e você é a próxima. Vamos adiantar 1h30”. Aiiii, para tudo! Tinha tudo organizado na minha cabeça e não era para ser já! Nem quarto tinha! Mas rapidamente me recompus e me organizei e falei. “Ótimo, melhor adiantar do que atrasar pois estou morrendo de sede e preciso tomar água logo! Vamos lá!”. Me levaram para o atendimento das urgências onde me troquei entre cortinas. Fiquei como vim ao mundo! O maridão me acompanhou na maca até à entrada do centro cirúrgico, onde encontrou amigos e ficaram na conversa enquanto eu estava ali, naquele estado constrangedor, deitada com mantas e uma toca “fantástica” e “sexy” na cabeça. Só mexia os olhinhos (tuc tuc tuc, direita, esquerda, direita, esquerda), olhando para quem estivesse falando. Conheci o anestesista (muito simpático por sinal), enfermeiras, e toda a equipe. Passei para a mesa de cirurgia, já estava lá o mastologista, todo descontraído. Eu estava começando a ficar nervosa e só sorria e falava com toda a gente que ia aparecendo. Abriram e amarraram-me os braços. Puseram-me uma molinha no dedo, mediram a pressão. Marcaram o “bichinho” e o médico me disse: “Agora fique tranquila que vou fazer o possível para deixar a sua mama o melhor possível e esperemos que os gânglios não estejam comprometidos”. E eu só disse: “Ótimo, agora me ponham para dormir que quero acordar daqui a 5 minutos e com noticias boas. Eu sei que vão ser boas.”

Acordei “5 minutos depois” (2h), com muitas dores no braço e só balbuciava “e o meu linfonodo? Qual o resultado? Como estou? Já posso beber água…por favor me deem água. Dói, dói…”. Tudo muito arrastado e sem sequer abrir os olhos. Alguém me disse que o linfonodo sentinela estava livre. Ufa! Apenas foi retirado e dissecado. Ufa de novo! O melhor cenário! A mama nem doía muito…mas a axila e as costas!!! Afe!!! Muito! Depois acordei melhor no quarto com uma bela recepção à minha espera e eu só ia dormitando e sorria a meia boca e agradecia por estarem ali.

Apesar de foto terrível, foi a 1ªfoto pós cirurgia

Apesar de foto terrível, foi a 1ªfoto pós cirurgia

Menos uma fase, menos um pedaço de mama e ainda por cima azul! Agora era esperar o resultado anatomopatológico do maldito tumorzito e da sua margem de segurança! Será que saiu tudo? Qual é realmente o grau de agressão do maldito?! Qual será a próxima fase? Muita emoção ainda por vir….Quando se tem um diagnóstico destes, cada dia é uma emoção nova. Não dá para reclamar de monotonia ou desanimar por falta de incentivos. O maior incentivo é viver e vivo um dia de cada vez, sempre pensando nas coisas boas que cada dia, cada atividade, cada pessoa que conheço, me proporcionam. Olho os detalhes e só fico com aqueles que realmente me importam e me fazem mais feliz. O resto, nem vale a pena. :)

 

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34 Comentários to “A primeira cirurgia”

  1. Sabrina
    16 de julho de 2013 às 19:14

    Vânia tive a oportunidade de vê-lá com o Rodrigo em Morro de São Paulo, não sei se vai se lembrar. Não sabia do seu problema, ontem quando vi no face a matéria do Jornal fui fuçar tudo que estava acontecendo, ja que quando vejo coisas desse tipo não consigo não me colocar no lugar das pessoas que passam pelo problema e pensar em como lidaria com isso….mesmo sem te conhecer chorei, chorei muito de tristeza, de emoçao, de ver como existem pessoas especiais, sentimentos que se misturavam… Li todos as suas matérias…
    Vc é sensacional pela força, otimismo, coragem e apesar das dificuldades ter criado essa ferramenta capaz de ajudar muita gente e levar as pessoas a reflexão sobre a própria vida, do que realmente é importante… Parabéns!!!!e tenha certeza que desde ontem faz parte das minhas orações diárias.

    • 17 de julho de 2013 às 11:30

      Olá Sabrina, lembro-me de vc sim. Naquele dia também ainda não sabia do meu problema. Somente soube uns 4 dias depois…pelo menos estava feliz na minha ignorância :). um muito obrigada pelo carinho. Pelo seu e por todas estas pessoas maravilhosas que agora passaram a fazer parte da minha vida e da minha luta. Vocês todos fazem parte da “Minha Vida Comigo”. Um grande beijinho.

  2. Tania Lobo
    16 de julho de 2013 às 18:50

    Vania, vc é uma pessoa muito especial que consegue ser admirada equerida por quem nem te conhece! Estou contigo, bj.

  3. Paulo Cunha
    16 de julho de 2013 às 18:33

    Olá
    Fizeste mal em não ter dito…grrrrr

  4. Marta Leão
    16 de julho de 2013 às 18:29

    A primeira coisa que eu disse quando acordei da cirurgia foi: “quero um bife!!” e aproveitei para resmungar com a médica quando me disse que não tinha sido possível aumentar muito mais o peito :)

    Marta Leão – 27 anos, cancro da mama e mastectomia com reconstrução.

  5. Elizete
    16 de julho de 2013 às 18:28

    Vania, a cada dia que leio seus post, mais te admiro. Guerreira eh pouco pra voce. Nao te conheco pessoalmente, mas vc ja eh muito especial para mim.

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