“Frustrando” de Noronha“Frustrando” de Noronha
Onze dias após a cirurgia lá fui eu para a nossa viagem. De braço esquerdo ao peito e com a mão direita agarrada à mama esquerda. Afinal, parecia que tudo aquilo iria cair se eu não segurasse, mesmo com o top apertado, de academia. Finalmente ia conhecer Fernando de Noronha. Vista de cima parecia bonita pela cor da água. Realmente é dos azuis mais bonitos que já vi. Dá vontade de mergulhar diretamente do avião. No entanto, eu devo ser a única pessoa no mundo que não tem vontade de lá voltar e que não achou nada de especial. Atribuo isto à condição em que estava e por não poder aproveitar o que de melhor a ilha tinha para oferecer mas…não sei. Ficamos numa pousada simples mas suficientemente confortável (Pousada Leão Marinho). O calor humano e a receptividade foram algo excepcional, todos os dias. A dona Marilúcia é um amor de pessoa. Super prestativa, engraçada e sempre bem disposta. A filha uma gracinha e o marido, Clóvis, sempre disposto a ajudar. O café da manhã era muito gostoso também. Incluía, ovos de vários jeitos e tapioca de leite condensado para quem quisesse (me me me). E no final da tarde tínhamos sempre um bolinho e um chazinho nos esperando. À noite tínhamos também à nossa porta, um sapo gigante, que se ia embora assim que nos via. Era o nosso porteiro. Apelidamo-o de Jeremias. Coitado do Jeremias, por pouco não levou umas pisadelas! Na pousada, nos dias que se seguiram, fomos conhecendo excelentes pessoas. Casais que realmente fazem uma viagem ficar mais enriquecedora. Chegamos a marcar alguns programas juntos e todos sempre divertidos. Pena que eu não podia aproveitar nem 30% do que a ilha tinha para oferecer.
Foi uma viagem cheia de coisas boas, em termos humanos mas também cheia de frustrações pessoais pois tudo que se estava a passar comigo foi posto em evidência. Todas as minhas limitações me foram apresentadas e não as consegui vencer. A estas frustrações juntou-se uma desilusão quanto à expectativa que eu tinha visualmente desta ilha. Vamos então ver com as frustrações que me deparei:
- Alugamos um buggy que me fez sofrer. A ilha tem apenas uma estrada asfaltada de 7km. A menor BR do Brasil. Tudo o resto é estrada de terra. Coisa que eu adoro quando estou em condições físicas normais. O que não era o caso. Sofri em cada buraco e, também, por não poder dirigir o buggy. Adoro algo mais radicalzinho;
- Não conseguia caminhar mais do que 200 metros. Gosto de fazer tudo a pé, principalmente quando viajo. E Noronha tem vários lugares cujo acesso é apenas por trilha;
- A flora era praticamente inexistente. Não havia nada verdinho…tudo estava extremamente seco. Ou seja, a ilha não era nada bonita e as construções eram maioritariamente de pré-fabricados;
- O preço das coisas era exorbitante e as opções de alimentação muito limitadas. A ilha precisa ser melhor cuidada;
- O pôr do sol. Esperava algo cinematográfico e já vi pores do sol mais bonitos da minha janela, na cidade;
- A frustração principal foi não poder mergulhar. Saber que está ali, embaixo de água, a fauna marítima mais rica do Brasil e não poder contempla-la e interagir com ela, é realmente frustrante;
- Choveu durante 4 dos 8 dias e o nosso quartinho inundou. Toda aquela água trouxe junto uma abelha (sou alérgica e fechei-me no banheiro até o marido resolver a situação) e 2 pererecas/sapinhos. Os habitantes da ilha festejavam e os turistas estavam deprimidos;
- Não vi golfinhos;
- O meu livro acabou (um livro que devorei, o Anticâncer do DavidServan-Schreiber) e não tinha onde comprar outro. Não gosto de ficar sem livro;
- Comi o pior sushi da minha vida;
- Vi um acidente de moto;
- Vi todo o drama, no porto, pela busca de um homem que acabou por morrer afogado. Toda a algazarra dos bombeiros, policia e a chegada do corpo (estava a chover torrencialmente e não podia sair dali);
- Quase me afoguei pois, por momentos, extasiada pelo mar da Praia dos Sancho (a mais bonita), me esqueci de tudo o que tinha e fui mar adentro de mascara e snorkel para ver os peixinhos. Não quis levar colete mas esqueci-me que estava apenas com um braço funcional e o mar estava com corrente. Resultado, o voltar para terra foi meio drástico. Entre ser enrolada por uma onda e ficar com areia até no cérebro, saí viva e morta de cansaço mas rindo…e com uma dorzinha a mais;
- Estraguei um vestido pois não o conseguia tirar. O braço não levantava o suficiente. Não saía nem “por decreto” e tive que o cortar. ;
- Descobri que me aconteceu algo na cirurgia que acontece a poucas mulheres. A “corda de viola”. Nervo, tendão, que ficam colados à cicatriz. Mais uma razão para o braço não levantar e o nervo ou tendão ficam visíveis….nhaca. Resultado: meses de fisioterapia;
- Não pude fazer passeio de barco;
- Só consegui entrar 2 vezes no mar pois tinha muitas ondas e não conseguia dar pulinhos.
Claro que a viagem também teve coisas boas e mesmo as coisas más foram encaradas com humor. Não me consegui esquecer da minha situação pois o corpo estava sempre me lembrando mas é sempre bom conhecer lugares novos, pessoas novas, histórias novas. Respirar ar puro, “respirar o mar”. Adoro “respirar o mar”, trocar “ideias” com ele. E isto tudo, sempre com o maridão do lado. E também teve as suas coincidências fantásticas! Encontrei um casal, que não via há 2 anos mas pelo qual nutro um carinho muito grande. E adivinhem? Estavam grávidos de 6 meses. Foi muito bom vê-los e saber da noticia boa. Trocamos informações e rimo-nos com elas. Raquel: “Vânia você já sabia?” e olhou para a barriguita dela. Eu pulei, dei gritinhos, beijei, abracei, acarinhei. Não contei na hora a minha novidade pois aquele momento foi lindo demais e eu não queria estragar. Contei apenas à noite no jantar. “Ah….e tal….(sorrisos) nós também temos uma novidade (sorrisos). Não é tão legal como a de vocês mas daqui a um tempo vai ser”. E pronto foi assim. Mais sorrisos.
Enquanto estávamos em Noronha também recebemos a feliz noticia de que íamos ganhar outro sobrinho, o segundo. Ficámos super, hiper felizes. E compramos o primeiro presentinho do Davi. O pequeno rebento nasce em Outubro. Ah! lembrei-me de outra coisa fantástica. Comprei umas sapatilhas super legais de brilhantes, no aeroporto de Recife que se podem molhar e encher de areia pois são laváveis. Há que lembrar de todas as coisas boas, certo? 😉 Depois de 8 dias, regressamos à “selva de pedra”. Dois dias antes da 2ª cirurgia. Mais histórias ainda por vir. Muita emoção, tristeza, alegria, informação…O “cardápio” é grande mas a vontade de viver é cada vez maior! E acredito que tudo o que ainda vem, bom ou mau, tem sempre um lado positivo e bem humorado. Tudo depende da perspectiva. 😉
Onze dias após a cirurgia lá fui eu para a nossa viagem. De braço esquerdo ao peito e com a mão direita agarrada à mama esquerda. Afinal, parecia que tudo aquilo iria cair se eu não segurasse, mesmo com o top apertado, de academia. Finalmente ia conhecer Fernando de Noronha.
Vista de cima parecia bonita pela cor da água. Realmente é dos azuis mais bonitos que já vi. Dá vontade de mergulhar diretamente do avião. No entanto, eu devo ser a única pessoa no mundo que não tem vontade de lá voltar e que não achou nada de especial. Atribuo isto à condição em que estava e por não poder aproveitar o que de melhor a ilha tinha para oferecer mas…não sei.
Ficamos numa pousada simples mas suficientemente confortável (Pousada Leão Marinho). O calor humano e a receptividade foram algo excepcional, todos os dias. A dona Marilúcia é um amor de pessoa. Super prestativa, engraçada e sempre bem disposta. A filha uma gracinha e o marido, Clóvis, sempre disposto a ajudar. O café da manhã era muito gostoso também. Incluía, ovos de vários jeitos e tapioca de leite condensado para quem quisesse (me me me). E no final da tarde tínhamos sempre um bolinho e um chazinho nos esperando.
À noite tínhamos também à nossa porta, um sapo gigante, que se ia embora assim que nos via. Era o nosso porteiro. Apelidamo-o de Jeremias. Coitado do Jeremias, por pouco não levou umas pisadelas!
Na pousada, nos dias que se seguiram, fomos conhecendo excelentes pessoas. Casais que realmente fazem uma viagem ficar mais enriquecedora. Chegamos a marcar alguns programas juntos e todos sempre divertidos. Pena que eu não podia aproveitar nem 30% do que a ilha tinha para oferecer.
Foi uma viagem cheia de coisas boas, em termos humanos mas também cheia de frustrações pessoais pois tudo que se estava a passar comigo foi posto em evidência. Todas as minhas limitações me foram apresentadas e não as consegui vencer. A estas frustrações juntou-se uma desilusão quanto à expectativa que eu tinha visualmente desta ilha. Vamos então ver com as frustrações que me deparei:
- Alugamos um buggy que me fez sofrer. A ilha tem apenas uma estrada asfaltada de 7km. A menor BR do Brasil. Tudo o resto é estrada de terra. Coisa que eu adoro quando estou em condições físicas normais. O que não era o caso. Sofri em cada buraco e, também, por não poder dirigir o buggy. Adoro algo mais radicalzinho;
- Não conseguia caminhar mais do que 200 metros. Gosto de fazer tudo a pé, principalmente quando viajo. E Noronha tem vários lugares cujo acesso é apenas por trilha;
- A flora era praticamente inexistente. Não havia nada verdinho…tudo estava extremamente seco. Ou seja, a ilha não era nada bonita e as construções eram maioritariamente de pré-fabricados;
- O preço das coisas era exorbitante e as opções de alimentação muito limitadas. A ilha precisa ser melhor cuidada;
- O pôr do sol. Esperava algo cinematográfico e já vi pores do sol mais bonitos da minha janela, na cidade;
- A frustração principal foi não poder mergulhar. Saber que está ali, embaixo de água, a fauna marítima mais rica do Brasil e não poder contempla-la e interagir com ela, é realmente frustrante;
- Choveu durante 4 dos 8 dias e o nosso quartinho inundou. Toda aquela água trouxe junto uma abelha (sou alérgica e fechei-me no banheiro até o marido resolver a situação) e 2 pererecas/sapinhos. Os habitantes da ilha festejavam e os turistas estavam deprimidos;
- Não vi golfinhos;
- O meu livro acabou (um livro que devorei, o Anticâncer do DavidServan-Schreiber) e não tinha onde comprar outro. Não gosto de ficar sem livro;
- Comi o pior sushi da minha vida;
- Vi um acidente de moto;
- Vi todo o drama, no porto, pela busca de um homem que acabou por morrer afogado. Toda a algazarra dos bombeiros, policia e a chegada do corpo (estava a chover torrencialmente e não podia sair dali);
- Quase me afoguei pois, por momentos, extasiada pelo mar da Praia dos Sancho (a mais bonita), me esqueci de tudo o que tinha e fui mar adentro de mascara e snorkel para ver os peixinhos. Não quis levar colete mas esqueci-me que estava apenas com um braço funcional e o mar estava com corrente. Resultado, o voltar para terra foi meio drástico. Entre ser enrolada por uma onda e ficar com areia até no cérebro, saí viva e morta de cansaço mas rindo…e com uma dorzinha a mais;
- Estraguei um vestido pois não o conseguia tirar. O braço não levantava o suficiente. Não saía nem “por decreto” e tive que o cortar. ;
- Descobri que me aconteceu algo na cirurgia que acontece a poucas mulheres. A “corda de viola”. Nervo, tendão, que ficam colados à cicatriz. Mais uma razão para o braço não levantar e o nervo ou tendão ficam visíveis….nhaca. Resultado: meses de fisioterapia;
- Não pude fazer passeio de barco;
- Só consegui entrar 2 vezes no mar pois tinha muitas ondas e não conseguia dar pulinhos.
Claro que a viagem também teve coisas boas e mesmo as coisas más foram encaradas com humor. Não me consegui esquecer da minha situação pois o corpo estava sempre me lembrando mas é sempre bom conhecer lugares novos, pessoas novas, histórias novas. Respirar ar puro, “respirar o mar”. Adoro “respirar o mar”, trocar “ideias” com ele. E isto tudo, sempre com o maridão do lado.
E também teve as suas coincidências fantásticas! Encontrei um casal, que não via há 2 anos mas pelo qual nutro um carinho muito grande. E adivinhem? Estavam grávidos de 6 meses. Foi muito bom vê-los e saber da noticia boa. Trocamos informações e rimo-nos com elas. Raquel: “Vânia você já sabia?” e olhou para a barriguita dela. Eu pulei, dei gritinhos, beijei, abracei, acarinhei. Não contei na hora a minha novidade pois aquele momento foi lindo demais e eu não queria estragar. Contei apenas à noite no jantar. “Ah….e tal….(sorrisos) nós também temos uma novidade (sorrisos). Não é tão legal como a de vocês mas daqui a um tempo vai ser”. E pronto foi assim. Mais sorrisos.
Enquanto estávamos em Noronha também recebemos a feliz noticia de que íamos ganhar outro sobrinho, o segundo. Ficámos super, hiper felizes. E compramos o primeiro presentinho do Davi. O pequeno rebento nasce em Outubro.
Ah! lembrei-me de outra coisa fantástica. Comprei umas sapatilhas super legais de brilhantes, no aeroporto de Recife que se podem molhar e encher de areia pois são laváveis. Há que lembrar de todas as coisas boas, certo? 😉
Depois de 8 dias, regressamos à “selva de pedra”. Dois dias antes da 2ª cirurgia.
Mais histórias ainda por vir. Muita emoção, tristeza, alegria, informação…O “cardápio” é grande mas a vontade de viver é cada vez maior! E acredito que tudo o que ainda vem, bom ou mau, tem sempre um lado positivo e bem humorado. Tudo depende da perspectiva. 😉
Olá Vânia !! Te admiro muito desde que te vi na TV te vi como um exemplo de vida …. e o mais importante tão nova e com uma experiencia de vida linda …. Parabéns pelo seu lindo trabalho … Vc é um exemplo raro , pois muitas pessoas não tem essa força de viver tão linda que vc demonstra … te admiro e admiro sua mãe por ter uma linda filha e com um dom especial de ensinar os outros a amar a vida e a dar valor … , todas as noites oro pelas minhas amigas e conhecidos que estão doentes , depois que te vi na TV e fiquei sabendo que vc tem a mesma doença da minha amiga Mariza eu passei a orar por vc também e tenho fé e esperança que vcs logo estarão curadas e felizes .. te desejo tudo de bom á vc e sua familia . Bjs e fique com DEUS ..