Nunca entendi muito bem o que as pessoas viam na corrida. Acordar às 5h da manhã para correr. Completar 42km…correndo?! Tentava racionalizar essa paixão que mais me parecia doença e não entendia. Conformava-me com um “ok, cada um tem os seus gostos”. No entanto, ver o prazer com que as pessoas falam da corrida sempre me intrigou e pensava: “quero sentir isso também”. O problema é que nunca, em 33 anos de vida, gostei de correr. Aliás, eu achava que não tinha capacidade nenhuma. Nem física, nem cardio-respiratória. Tinha sempre a desculpa: “Meus joelhos não prestam por causa da patinação que fiz durante anos e os meus pulmões são fraquinhos.”

2014 e 2015 têm-me surpreendido e tenho superado, passo a passo, cada uma das limitações que eu achava ter. Cheguei à conclusão que a maior limitação está na nossa cabeça e somos nós que a criamos como desculpas para nos enfrentarmos e superarmos a nós próprios.

Uma das sócias da Track & Field em São José dos Campos foi a responsável por hoje, dia 15 de Março de 2015, eu me sentir uma mulher mais forte e um pouco mais realizada. Na semana passada desafiou-me a participar da corrida, pessoalmente. Ao primeiro contato eu respondi: “Lyd, mas eu não consigo. Não sou da corrida”.

E ela respondeu em seguida: “Consegue sim. E se sentir cansada caminhe. Muita gente faz isso”.

Ok, respondi eu. Desafio aceite. Quando é para um programa saudável sou rápida de convencer. Tinha chegado a hora de superar mais um desafio: correr por prazer e não para fugir de algo, tipo um tigre ou assim.

Passei esta semana nervosa e tentei correr 5km na esteira da academia um dia. Foi uma sensação de “morte lenta”. Confesso que não gostei mas sabia (pelo que me diziam) que na rua era diferente. E realmente, eu sempre gostei de caminhar na rua. Até poderia correr 5/10min mas caminhava a maior parte do tempo. Nunca tinha experimentado 5km  direto. Sentia “dor de burro”ou cansaço.

E hoje foi diferente. Ver aquelas quase 2mil pessoas se encontrando às 7h da manhã, já bem dispostas e prontas para colocar os “gambitos”na estrada, foi emocionante. Senti-me parte daquele grupo tão eclético e com um mesmo objetivo: completar a prova de 5 ou 10km.

Eu estava preparada para, eventualmente, dar uma caminhadinha no meio do percurso. No entanto, chegou o meio do percurso e eu ainda estava tranquila. Coração e pernocas tranquilas. E por isso não parei. Começaram a vir as lágrimas aos olhos a imaginar-me a chegar na Chegada sem ter parado. Aí, o meu cérebro racional começou a dizer ao meu cérebro emocional:

“Fica quieta Vânia, não vais chorar agora sua maluca!”

E lá continuei. Cheguei nos 4km e nada de cansaço…estava bem. O meu cérebro estava zen e emocionado, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo. Algumas pessoas em volta diminuíam o passo e outras iam passando. Mas eu continuava e com vontade de acelerar mais e mais. Mas pensava “não! tens que conseguir chegar no final por isso continua devagar”. Ok, cumpri as ordens do meu cérebro racional.

A 500m do final encontrei a minha amiga Michelle com quem era suposto ter começado mas desencontramo-nos. No entanto, estávamos ali, juntas, chegando no ponto final… Alguém para partilhar este momento especial comigo. Também ela está passando por uma provação grande por isso esta prova era importante para ela também.

Nos últimos metros falei: “Vamos Mi, dar o último gás…estamos chegando, nem acredito, estou em transe!!!!“”

Cheguei! Cheguei! Sentindo que poderia mais…muito mais! E recebi uma medalha…de corrida!! E quem estava no final me esperando? O maridão!

Agora entendo e sinto-me uma pessoa melhor depois desta superação. Enfrentar os nossos desafios faz-nos crescer e criar novos desafios. Assim a vida anda. Assim a vida evolui.

Um beijo no coração,

Vânia

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