O desafio da espera

Uma das piores partes de um processo de câncer, digamos assim, é a espera. Desde aquele momento da desconfiança, de um pré-diagnóstico ou mesmo do resultado de um exame que diz: “carcinoma”, “tumor”,….até ao momento de confirmação pelo médico, prognóstico, de definição de tratamentos e de, efetivamente os começar, vai uma vida….podem ser poucos dias mas aquela espera é avassaladora.

Aos 31 anos fui diagnosticada com um câncer de mama triplo negativo. Fiz 2 cirurgias, procedimento de fertilização in vitro, 16 quimioterapias e 30 radioterapias. Fiquei careca, sem cílios, sem sobrancelhas, com menos músculos, sem energia e sem libido, mas….um dos momentos mais aterrorizantes foi: a esperaO não saber. E percebo isto também em grande parte das minhas clientes que têm ou tiveram câncer.

Neste momento, na nossa vida coletiva, também estamos todos esperando. Por isso decidi falar sobre paciência. Desde Março de 2019 que, em fases variadas, esperamos. Esperamos a notícia que podemos sair de casa, que podemos ver (e abraçar) as nossas pessoas queridas, esperamos haver vacina, esperamos haver vacina para nós, esperamos tomar a vacina, esperamos que a vacina não tenha efeitos colaterais adversos, esperamos, esperamos, esperamos. Uma espera que parece tão eterna que até já nos acomodamos a ela. No conforto das nossas casas e sob uma ótica global, claro, mas esperamos. E esta espera fez-me lembrar, desde o 1º dia, a época dos tratamentos. Por isso a ligação entre os 2 momentos.

Se você é daquelas pessoas que acredita não ter nascido com a característica de traço “paciência”, com certeza, já deve ter se surpreendido com tanta resiliência que acabou desenvolvendo. E, para além, disso tem toda a razão. Não nascemos pacientes. Que bebé é que não chora quando tem fome? A criança é naturalmente impaciente pois dependem de outros para satisfazerem as suas necessidades.

Eu, pessoalmente, já adulta, achava-me uma pessoa impaciente, até ao câncer (2013). Mas a resiliência que fui desenvolvendo, no momento que me senti mais fora de controle sobre a minha vida, me fez perceber que sou muito mais paciente do que imaginava. Claro que fui usando técnicas para não surtar, como por exemplo, viver um dia de cada vez. E é isto, que você, se se vê neste estado de espera eterna, tem vindo a desenvolver: Paciência.

Já dizia a minha avó que a paciência era uma virtude! Apesar de cansativa, realmente, é fundamental, principalmente nos dias de hoje, tão imediatistas e velozes e ao mesmo tempo que inseguros, com uma pandemia sem controle.

E o mais interessante é que nós não somos reféns dos traços com que nascemos. Nós podemos desenvolver a paciência através de treinamentos auto-induzidos (por ex. com meditação, auto-reflexões e ressignificação) e de treinamentos  externos (explico num próximo post). Mas, no fringir dos ovos, a conclusão é: “sim, você pode se tornar uma pessoa mais paciente”.

A psicóloga Sarah Schnitker, num estudo chamado “A neurociência da paciência”, descobriu que existem três tipos de paciência:

  1. Paciência interpessoal (ex.: ter paciência com outras pessoas);
  2. Paciência para complicações diárias (ex.: sofrer com a Internet lenta, atraso de uma consulta médica, da manicure,…) e
  3. Paciência para dificuldades de vida (ex.: ser capaz de esperar pelos tempos difíceis – como agora, como naquele limbo entre o “tenho câncer” e o “a solução é esta…”) .

Tendo em conta estas informações, deixo 2 perguntinhas para refletir e, se quiser, responder abaixo (vou adorar saber). Esta é uma forma de começar a lidar com a sua própria paciência e o que sente que poderia desenvolver, para onde se movimentar.

Para refletir:

  • Qual é o tipo de paciência que você tem “mais naturalmente”?
  • Qual é o tipo de paciência que sente que precisaria de “outra vida” para poder ter?

Eu, por exemplo, preciso desenvolver/treinar a paciência para as complicações diárias. Sou bastante impaciente neste tipo.

Conta para mim e eu vou continuar escrevendo sobre este assunto, além de desenvolver nos stories do Instagram @minhavidacomigo 😉

Um beijo no coração,

Vânia

Vânia castanheira Coaching e Consultoria

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