Carmen Meira – Histórias que Inspiram #70

A história de hoje é muito especial para mim. É da minha tia Carmen, a minha segunda mãe que, há 13 anos passou por um câncer de mama triplo negativo grau III. Ela é um exemplo de vida e de pessoa para mim. Não  só pela doença mas pela forma como encara a vida e pela forma como ama, incondicionalmente, cada um de nós da família. Na época eu tinha 22 anos e nem me apercebi da gravidade da situação pois a forma como ela nos contava fazia tudo parecer muito mais simples. Nunca pensei que ela fosse morrer e, no entanto, a situação dela foi muito grave. 

Tenham o enorme prazer de conhecer a história que inspira da minha tia Carmen, contada por ela:

carmen-meira“Sou a Carmen, tenho 55 anos, fisioterapeuta, casada, 3 filhos, 1 enteada, 3 netos, vários sobrinhos (sou tia da Vânia Castanheira) e tenho uma família maravilhosa. Fui diagnosticada com Cancro/Câncer de Mama aos 42 anos (carcinoma ductal invasivo – triplo negativo). Fiz mastectomia radical modificada de Madden, com reconstrução imediata por TRAM.

No final de Agosto de 2003, na brincadeira, descobri que tinha um nódulo na mama esquerda. Fui ao médico que mandou fazer ecografia/ultrassom e que disse que tinha uma massa bastante opaca mas que provavelmente não seria nada. Fiquei logo de antenas ligadas pois trabalho na área da saúde e muitas histórias me passam à frente. Além do mais, sentia que o que tinha estava a crescer e de forma diferente. Fiz mamografia, ecografia, biópsia  e o resultado? Carcinoma ductal invasivo na mama esquerda!  T2 NO M0 , grau III, recetores de estrogéneo e progesterona negativos. Um triplo negativo.

Estava no principio do mês de Outubro e cai-me esta Bomba! Que fazer?… nada. Apenas manter segredo do meu marido pois tinha uma grande festa de aniversário dos 50 anos do meu irmão e não queria preocupar a familia, principalmente a minha mãe e os meus filhos ( de 3, 10 e 13anos de idade).

Perguntavam-me o que tinha pois não estava com o meu ar habitual (alegre) e eu apenas dizia que estava muito cansada do trabalho. Sentia que não tinha o direito de estragar uma festa que estava a ser planeada há já muito tempo. Fui novamente ao médico para combinar a cirurgia e fazer os exames que faltavam. O que mais me assustou foi o da Cintilografia Óssea. Não pelo exame em si (que não custa nada), mas sim, pelo resultado que poderia vir a ter. Fui fazer o exame num sábado de manhã e só me davam o resultado à tarde. Comecei a chorar que nem uma Madalena ao pé da enfermeira que foi muito amorosa e muito querida. Não me conhecia de lado nenhum e chorava comigo. Eu não conseguia ir para casa sem saber o resultado. Não sabia como havia de enfrentar a familia de casa (ainda não sabiam de nada). Acabaram por me entregar o exame 30m depois e estava tudo ok. Continuei a chorar mas desta vez, de alegria. Sim, de alegria pois apesar de ter um cancro/câncer, ele estava apenas na mama.

Dia 17 de Outubro (diz a minha irmã, mãe da Vânia), depois dos anos do meu sobrinho/afilhado (irmão da Vânia) tive que informar os meus irmãos. Faltavam menos de 15 dias para cirurgia e provavelmente iria precisar de ajuda com os meus filhos.

Comecei a fazer muita comida e a congelar. Queria deixar tudo pronto para a minha familia e para quando eu chegasse do hospital. O internamento seria de vários dias.

A cirurgia ficou marcada para 03 Novembro de 2003. Entrei de véspera e tinha combinado com o meu marido que depois de dar entrada no hospital ele iria embora sem lágrimas e sem olhar para trás. No dia da cirurgia, vejo-me ao espelho, cheia de marcas na barriga e na mama e disse para mim mesma : “Carmen, a partir de hoje é uma nova etapa na vida, não vale a pena lamentar nem pensar porquê. Quanto mais calma for para cirurgia melhor. Vai correr tudo bem, vamos lá para a frente e dar cabo da maldita doença!”.carmen-e-ze

Assim foi, pensamentos positivos. Lá no fundo eu sabia que tudo ía correr bem e eu ía ser mais teimosa que o maldito cancro/câncer! Tirei 11 gânglios e estavam todos limpinhos. O pós operatório correu dentro da normalidade . Estive internada 13 dias pois como foi com reconstrução imediata demorou um pouco mais. Nos primeiros dias dormia com a cabeceira da cama inclinada e pernas ligeiramente dobradas.Dormi sempre razoavelmente bem (uma das minhas irmãs dormia mal por mim). Só tenho a dizer bem, tanto do hospital como de todos os que me acompanharam, médicos, enfermeiros, auxiliares … todos sem exceção! Até a comida era boa, só não havia apetite.

Fiz 6 sessões de quimioterapia com a tal “rainha de copas” mas não foi necessária radioterapia. Claro que nunca me vou esquecer do carinho com que fui recebida naquele serviço de oncologia e da enfermeira que me colocou a par de tudo.

Usei o tal capacete de frio para a queda de cabelo e parecia que congelava a mioleira, era mesmo muito frio. O cabelo não caiu todo mas ficou muito ralo e com algumas peladas. Em casa não andava com nada mas pedia aos meus filhos para me avisarem na hora de sair à rua. E aí punha um gorro (estávamos no inverno). Acreditem, quem passa por isto, o cabelo é meramente secundário, queremos é ficar boas e viver.carmen-cabelo-quimio

Passei bem e com alguns pequenos truques que vamos aprendendo com o desenrolar dos acontecimentos. Hora da refeição ía sempre à casa de banho/banheiro ou ao telefone pois o cheiro inicial da comida não era agradável e parecia que enjoava…começavam a comer e depois eu aparecia. Assim já não fazia mal e estávamos todos juntos à mesa. Dia da quimio e dia a seguir, ficamos com má cor e a cheirar muito a remédio mas a família é muito querida e diz que é só impressão nossa.

Não digo que seja fácil mas temos que enfrentar as situações, quaisquer que elas sejam. Temos que tentar dar a volta pois todos temos maneiras de ser e crenças diferentes. E, para uns e mais fácil que para outros. Por exemplo, uma das minha vizinhas da quimio não saía de casa nem para comprar pão…tanto lhe falei que na 4ª sessão chegou toda contente e disse “saí de casa!”.

Senti-me abençoada por ter a família que tenho, pelas palavras e mensagens de conforto que recebi de muita gente. O que me ajudou muito também foi ter Fé, para mim foi uma ajuda muito grande.familia

Estive de baixa/licença alguns meses e já estava super necessitada de voltar ao trabalho, ao meu dia a dia normal e à minha profissão que tanto adoro. Comecei a um ritmo menos acelerado e tive uma festa muito simpática no meu regresso ao trabalho…uma sala cheia de  balões e uns bolinhos para adoçar a boca…adorei!

Hoje em dia, 13 anos depois (triplo negativo grau III com esvaziamento axilar e mastectomia radical), levo uma vida normal em tudo e sem limitações para nada. Mantenho as minhas revisões anuais e agradeço sempre que recebo os resultados..

Como  na vida nada acontece por acaso,  acredito que ao ter passado por um cancro/câncer como doente, profissionalmente, me ajudou a ouvir e a sentir os doentes de uma outra forma e talvez a ajudá-los pois é sempre bom saber de bons casos, e que a vida continua.

A mensagem que deixo para todos é…não descurar das revisões anuais ao médico! Nada na vida é fácil e passar por um cancro/câncer é sempre difícil. Mas com ajuda do pessoal de saúde, família, amigos, com a nossa força de vontade e com a nossa Fé… tudo é possível. E, como costumo dizer : sorte daqueles que descobrem as doenças a tempo e horas, ela dá trabalho e dores de cabeça mas temos mais possibilidades de vencer. Nós temos que ser mais teimosos que o maldito do cancro/câncer.”

Obrigada e, por favor, vive para sempre! <3familia_quase_todos

Carmen Meira
55 anos, casada (3 filhos, 1 enteada e 3 netos)
São João do Estoril, Lisboa– Portugal

Participe também! Qual é sua história? O que faz vibrar seu coração? O que te dá força? Conte para mim, conte para nós….AQUI:)

Se quiser conhecer as outras histórias, já publicadas, basta clicar AQUI, nas Histórias que Inspiram.

Siga também:
Instagram e Twitter @minhavidacomigo
Facebook https://www.facebook.com/MinhaVidaComigo
Youtube https://www.youtube.com/user/vaniacastanheira

5 Comentários to “Carmen Meira – Histórias que Inspiram #70”

  1. Juliana Finato
    14 de novembro de 2017 às 01:58

    Fui diagnosticada com esse mesmo tipo e grau, após qt tive recidiva local e estou dando sequência ao meu tratamento com qt pós mastectomia bilateral.
    Tenho interesse em saber se sua tia e viva e quais os hábitos que mudaram nela.
    Sempre tive alimentação saudável, sempre pratiquei esportes e meditação.
    Recentemente fiz um exame chamado pet scan e graças a Deus a doce Ca estava localizada na mama e meu corpo limpo. Mandei algumas mensagens no seu insta preciso te escrever mas hoje não deu.
    Adoro seu trabanho e a maneira que encara a vida pós Ca. Beijo grande Vânia.

  2. 6 de dezembro de 2016 às 07:57

    a palavra câncer quando a ouvimos como um diagnóstico nosso é assustadora! Tambem senti muito medo, nunca imaginei passar por isto tambem, mas, enfrentando a situação no dia a dia, consegui superar bem. Meu câncer foi tipo I – receptor de hormonios, foi mais fácil o tratamento; me recusei a fazer a qquimio, fiz apenas a radio e tomo o Tamoxifeno. Estou me sentindo super bem. Espero que dê tudo certo. Parabens por sua forma Carmem.

  3. 6 de dezembro de 2016 às 07:51

    Que emoção relembrar a história da minha irmã.
    Ainda hoje relembro com emoção o receber a noticia, o ter que gerir mais um cancro na famíilia (o anterior tinha falecido), o ir ver cabeleiras loucas para tentar brincar, o tentar proteger filhos e sobrinhos – tudo estava bem é só mais uma etapa, o ter desejado morrer para irmã sobreviver, o ter dialogado mentalmente com o nosso pai para a proteger, o … tanta emoção e só passaram 13 anos….

    • Rodrigo Roveri
      6 de dezembro de 2016 às 15:15

      Assim como ela Ana, tu és uma grande guerreira que está sempre a gerir tudo com sorriso largo no rosto e suavidade. Todos que estão a sua volta gostam de ti por isso. Grande beijo.

Escreva um comentário

*