Prazer e câncer de mama – batalha hormonal e de autoestima

Lembra-se do Let’s talk about sex (aqui)? Lembra-se também que prometi não ser o único post sobre o assunto? Pois aqui vai a continuação. Eu sou casada e dei um pouco da minha experiência e perspectiva. Os efeitos colaterais da quimioterapia são diferentes para cada pessoa mas uma coisa é certa: a falta de autoestima e de autoconfiança atrapalham a nossa sexualidade e, por extensão, a do parceiro. Lembrem-se que a cabeça tem que ser a nossa maior aliada!! :) Mas hoje não falemos de mim. _MG_0043 A Alice R.C é solteira e está passando pelo processo de quimioterapia praticamente igual ao meu. No entanto, quando ela terminar a quimioterapia, vai continuar tomando um comprimido oral, como ela explica abaixo. Os medos, as inseguranças, as visões que a nossa cabeça cria e os efeitos secundários visíveis no nosso corpo, são os mesmos. Mas como faz uma solteira durante este período?! Qual a técnica dela para não perder a feminilidade e a sua sexualidade?! Vejam a experiência que ela teve e o que isso representou para o seu estado de confiança atual 😉

ALICE R. C – Existe Prazer depois do câncer de mama?

O diagnóstico de um câncer de mama teve um impacto incomensurável na minha vida. O drama que sofri e o medo que senti ao deparar-me com o risco de vida fez com que tudo aquilo que estava em andamento perdesse o rumo. Projetos, sonhos, trabalho… De repente eu não tinha mais nada sob controle. Desde então, as mudanças e os processos de adaptação em busca da cura tem sido experiências intensas que me fazem refletir, questionar e reavaliar conceitos e comportamentos que geram uma perspectiva de vida totalmente diferente para mim. Cada nova vivência, uma lição e uma peça chave para a reconstrução daquilo que desmoronou para mim. Não foi diferente com a questão da estética e sexualidade. Algo que me causou muito sofrimento diz respeito aos hormônios femininos. Parte do meu tratamento em busca da cura do câncer inclui a redução drástica das taxas dos hormônios femininos estrogênio e progesterona. Além da quimioterapia terei que tomar por cinco anos o Tamoxifeno, o remédio anti-hormônio. Recebi a notícia como alguém que recebe uma sentença de castração, afinal tenho 33 anos, solteira e sou amante dos gozos da vida. O peito poderia ser reconstruído. Os cabelos cresceriam, mas e os meus hormônios?  Os hormônios responsáveis pela minha libido, minhas formas de mulher, minha fertilidade? A cura daquele câncer implicaria o assassinato da minha alma feminina. O tratamento começou no dia 12 de junho (bem no dia dos namorados) e ao longo do tempo venho lidando com todas as dificuldades estéticas e inseguranças que nós que tivemos ou temos câncer vivenciamos. Meus seios continuam como antes da cirurgia graças à identificação precoce do nódulo e ao trabalho do mastologista que me operou. Quanto à minha careca, uso e abuso de lenços coloridos e estilosos. Chapéus e a prótese capilar, mais conhecida como peruca, são meus fiéis companheiros. Faço desses instrumentos um estilo e até me sinto bem sendo diferente. No entanto, o medo, a insegurança e a possibilidade de causar repúdio num eventual pretendente era algo me deixava inquieta. Como iria fazer na hora H? Sexo de touca, tipo sexo de meia? Vai que a peruca cai! E se eu tiro a peruca e o cara fuim? E se meu cateter estiver tão saltado a ponto de cegar meu parceiro e ele não enxergar mais nada além dessa coisa alienígena? E se eu não sentir tesão? E se de repente minha pele enrugar toda e eu passar a ter 33 com rostinho de 75? E se … ? E se …? E se ninguém nunca mais ninguém me desejar ? Pior, e se de repente a falta de hormônios for tanta que eu não vou nem ligar mais pra tudo isso e vou preferir assistir um filme meia boca acompanhado de uma xícara de chá? Resolvi que os hormônios iriam cair, mas a peteca não. Mais uma vez eu teria que enfrentar todos esses medos e buscar soluções. Comecei a buscar nos exercícios físicos uma forma de estímulo para a sensação de bem estar, autoconfiança e autoestima. Contratei o personnal mais gato que conhecia para ajudar no processo como forma de inspiração. Não só era um profissional dedicado e experiente, mas também parecia o Clark Kent. :) Preguiça e fraqueza não iam me fazer desperdiçar aquela hora tão bem acompanhada. Enganaria meu cérebro com aquele moço bonito me dando toda a atenção e cuidado. Estava careca sim, mas olha lá o moço bonito me esperando no parque pra me passar um monte de exercícios que vão me fazer sentir a Mulher Maravilha! De repente passei a ouvir que era muito admirada, que tinha um rosto lindo, que ficava super bem careca. Meu sorriso passou a ser elogiado com mais frequência e pessoas que nunca tinham se aproximado de mim para demonstrar qualquer apreciação, vinham me dizer coisas que me faziam sentir uma super mulher. Só sei que a fase que era pra me sentir a minhoca do coco do cavalo (porque a gente sem cabelo, cílios e sobrancelha fica com cara de minhoca) passou a ser uma fase de autoconfiança e amor próprio que nunca tinha experimentado antes… Mas será que me sentia assim só porque não estava me expondo aos meus medos? E na hora H? Pois bem, surgiu uma oportunidade: sexo por sexo, casual. Carne desfrutando de carne. Algo que numa situação normal me daria preguiça. Esses encontros geram um vazio enorme no dia seguinte.. Será que meu corpo, que vinha sendo tão judiado com todo o tratamento, ia desfrutar de alguma coisa? Será que minha cabeça ia deixar? Será que meus hormônios, ou a falta deles, iam me sabotar ? Ai ai ai ai, será que meu peito está torto, feio? E lá veio a voz do além que sempre fala comigo quando olho no espelho: “Alice minha querida, você quer ou não quer? Siiiiiiim. Você sabe que esse moço te quer mesmo sabendo de tudo que está passando, então você vai ficar encanada com o que ele vai pensar? Siiiiiiiim, quer dizer, nãaaaaaaaaaao. Então bem, aproveita que ele é alto, bonito, parecido com o Bono Vox, está te desejando e relaxa. Se sinta, conecte-se com seu corpo e mate a saudade do seu poder de sedução, da sua libido, do seu querido siricutico que corre pelo corpo te fazendo sentir tão viva. O máximo que vai acontecer é você entrar em pânico, morrer de vergonha e querer pular da janela. Aí você muda de cidade e está tudo certo, não precisa contar pra ninguém… É voz do além, você tem razão, fui!” Moral da história: não há nada mais poderoso que a nossa mente. O desejo é fruto do nosso bem estar interno, da cabeça boa. Quando a gente está em harmonia consigo mesma, o outro não é uma ameaça. Não há nenhum hormônio que faça uma mulher mais sensual e atraente do que sua autoconfiança. E é importante que sejamos atraentes para nós mesmas e que sintamos prazer nas pequenas coisas  O que me faz gozar da vida é minha mente de bem comigo mesma, em paz comigo. Peito torto? Ninguém é perfeito, nem seu parceiro. Careca? Nem vai lembrar-se dela se estiver entregue àquele momento desfrutando do seu prazer, seja ele um momento de degustar um prato, bater um papo ou fazer nada. E se lembrar, fazer o quê? Essa é você hoje. E o que te faz mulher e o que te deixa atraente é esse estado de espírito, não hormonal.

Está passando por quimioterapia? Conte-me a sua experiência relativamente ao sexo. Envie-me um e-mail com a sua perspectiva e como lida com este assunto. Eu publicarei aqui, com o seu nome ou com um nome fictício, como você desejar.

 

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16 Comentários to “Prazer e câncer de mama – batalha hormonal e de autoestima

  1. Kathy Furtado
    10 de agosto de 2015 às 23:18

    Nossa, dei boas risadas com esse artigo! Relata as angústias com a maneira divertida com a qual eu também gosto de lidar pra espairecer os problemas, mesmo que por dentro a gente esteja explodindo de ansiedade! Tenho 33 e aguardo para começar a minha quimio logo logo. De dedos cruzados. Bjos.

  2. Marilia
    23 de fevereiro de 2014 às 16:48

    Adorei, é tudo como se vê, ou um ponto preto numa parede branca, ou um ponto branco numa parede preta. Estou passando por isto tb. vou começar as quimio e espero ter tanto poder como vc. Um grande beijo.

  3. 20 de janeiro de 2014 às 02:23

    Parabens pela auto estima, continue assim

  4. 19 de outubro de 2013 às 21:28

    Gente, como é lindo ver uma mulher tão guerreira desse jeito, compartilhando conosco esse tipo de experiência! Realmente, tá tudo na nossa cabeça, e ser feliz não depende de mais nada, a não ser de nós mesmos!

  5. Vânia Darque
    26 de setembro de 2013 às 17:13

    Olá Vânia sou Vânia também e tenho 32 anos e descobrir o câncer de mama a duas semanas vou começar a quimio e futuramente a cirurgia pois o nódulo está bem avançado preciso reduzir com a quimio para depois fazer a cirurgia,gostaria de fazer parte desse blog afinal sou “novinha” e não sei nada a respeito. Na verdade o novo as vezes é estranho e tudo dá agora pra frente é novo né.Um grande abraço.Belo Horizonte Minas Gerais Brasil

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